segunda-feira, 11 de agosto de 2008

MURO DAS LAMENTAÇÕES E O ESCAMBAU

Tem coisa que eu entendo menos que os comerciais da Colgate... É sério, essa espécie surreal de propaganda é veiculada sem se saber qual o verdadeiro motivo... Vide aquele em que tem um portador de bafo-de-gambá no banheiro de sua suposta residência americanizada quando é abordado por uma equipe de TV com repórter, cameraman, caboman e o K-7 a 4 a fim de colocar o sujeito contra a parede numa enquete enquanto vestia apenas seus mais sumários trajes... Se isso for digno de prêmio, eu é que estou ficando velho mesmo! E o pior: perto do meu aniversário eu sou obrigado a suportar isso... É, muitos anos de vida, blá, blá, blá, etc. e tal... Mas não foi pra falar da minha contagem regressiva que mostrei a carranca. Estou aqui para me justificar com os leitores desta página mantida gratuitamente na internet (bem, vou me justificar apenas comigo, então... mas preciso escrever para tirar a ferrugem do cérebro que almeja uma bolsa integral do ProUni ano que vem).
Estive meio ausente neste último mês porque os Secretários de Relações Cinematográficas Exteriores não conseguiram conciliar minha agenda aqui no Brasil com as reuniões de extrema urgência em Hollywood, que surgiram de repente por causa da greve dos roteiristas americanos. Um bando de mortos de fome, é o que eu penso. Mas logo que postei a última postagem (!), Damon Lindelof e Jerry Bruckheimer me ligaram solicitando que eu embarcasse no próximo vôo para os EUA, a fim de resolver alguns assuntos suspensos. Disseram que era importante. Sem pestanejar, rumei.

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Tão logo quanto pisei em solo americano, avistei Jerry, Damon e outros rostos conhecidos, como Denzel Washington e Bruce Willis. Alguns atores de séries menos expressivas também estavam presentes, implorando para que eu fizesse algo para acelerar o processo de negociação entre as produtoras e os roteiristas. Recordo vividamente que Naveen Andrews me apresentou naquela ocasião algumas boas idéias para a trama de Lost, Prison Break e até mesmo de CSI. Dispendi preciosos minutos conversando com Terry O´Quinn sobre possíveis soluções para o caso que havia esfriado o mercado cinematográfico mundial. Muita gente dependia disso. E muitos contavam comigo, mesmo depois de alertá-los que não estava numa boa fase para escrever roteiros.

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As séries tiveram sua transmissão interrompida; as redes de TV começaram a exibir reprises e isso irrita os fãs, acreditem. A produtora de Jericho recebeu 18 toneladas de nozes enviadas por seus expectadores mais assíduos, indignados com o cancelamento da série... Se você acha que já viu de tudo nessa vida, tente ler as entrelinhas na próxima....
Pois bem... eu não posso revelar muitos detalhes da negociação, devido ao contrato de sigilo que assinamos na data, mas posso esboçar o que aconteceu de maneira conceitual: todos os grevistas foram despedidos. Imediatamente. Convoquei uma reunião extraordinária com todos os faxineiros, copeiros, pedreiros, alguns mendigos e sem-teto e com os técnicos em manutenção elétrica e hidráulica e disse-lhes:

- Querem manter seus empregos? Não me apareçam aqui amanhã sem que tenham escrito o roteiro de um capítulo para cada série! Virem-se! Vocês estão aqui para RESOLVER!

Dito, saí da sala de reuniões. No dia seguinte, haviam não apenas um, mas CINCO capítulos escritos e pré-produzidos pelos profissionais que participaram da reunião. É incrível o que o ser humano é capaz de fazer quando tem uma oportunidade (e quando recebe um pequeno incentivo)...
O índice de audiência foi elevado em 78% com as novas mentes moldando as histórias e ainda continuam atuando como roteiristas, produtores e diretores e são os responsáveis pelo sucesso das séries mais comentadas do mundo.


P. S. Aprendi muito com O Gerente. Se não fossem seus sábios ensinamentos, Hollywood teria desabado.

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